Falham primeiras negociações de líderes europeus com o Irã

by Marcelo Moreira

As primeiras negociações realizadas nesta sexta-feira (20), em Genebra, na Suíça, entre ministros das Relações Exteriores da Alemanha, França e Reino Unido e o regime iraniano terminaram sem acordo para um cessar-fogo imediato ou avanço nas tratativas sobre a contenção do programa nuclear do país persa.

O encontro, que também foi acompanhado por Kaja Kallas, chefe das Relações Exteriores da União Europeia (UE), expôs o impasse entre as partes e deixou evidente que a crise no Oriente Médio permanece sem solução à vista.

A tentativa europeia de convencer o Irã a retomar o diálogo com Israel foi frustrada pela exigência do chanceler iraniano, Abbas Araghchi, de que país governado por Benjamin Netanyahu interrompa seus ataques antes de qualquer reaproximação diplomática.

“Deixei muito claro que as capacidades de defesa do Irã não são negociáveis”, afirmou Araghchi após o encontro. O chanceler iraniano também condicionou futuras conversas ao fim do que chamou de “agressão israelense”.

Do lado europeu, o tom foi de cautela e preocupação diante da possível escalada da crise. Em entrevista coletiva, o ministro das Relações Exteriores alemão, Johann Wadephul, chegou a reconhecer que “a boa notícia hoje é que saímos da sala com a impressão de que a parte iraniana está disposta a seguir dialogando sobre todas as questões importantes”. No entanto, na prática, essa dita disposição iraniana esbarra nas condições impostas por Araghchi, o que pode inviabilizar de fato qualquer avanço imediato nas negociações por um cessar-fogo.

O chanceler francês Jean-Noël Barrot e o britânico David Lammy reforçaram que “a via militar não oferece uma solução permanente ao problema do programa nuclear iraniano”, contudo insistiram no compromisso europeu com a segurança de Israel.

No encontro, conforme foi reportado, as autoridades europeias também cobraram do Irã a retomada da cooperação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e manifestaram preocupação com o atual estágio do programa nuclear do país islâmico, ressaltando que “carece de um propósito civil crível”.

Apesar de reconhecerem a necessidade de evitar uma escalada regional, os líderes europeus não conseguiram convencer o Irã a flexibilizar suas posições. Araghchi manteve o discurso de autodefesa e criticou a “falta de condenação dos ataques atrozes de Israel” pelos europeus, além de reafirmar que o programa nuclear do Irã permanece sob supervisão internacional.

O encontro, que ocorreu sob forte clima de tensão devido à ofensiva militar de Israel em curso contra instalações nucleares iranianas, iniciada no último dia 13, terminou, até este momento, sem qualquer anúncio de nova rodada de negociações, apesar das partes europeias manifestarem desejo de seguir dialogando com o Irã.

Trump e Israel mantêm linha dura contra o Irã

Enquanto os esforços europeus fracassaram em Genebra, os Estados Unidos reforçaram sua posição de apoio a Israel e mantiveram distância das tentativas de mediação conduzidas pelo bloco europeu nesta sexta.

O presidente Donald Trump afirmou pela tarde que seria “muito difícil” pedir para Israel interromper seus ataques contra o Irã.

“É um pouco mais difícil fazer isso se alguém está vencendo. Mas estamos prontos, dispostos e capazes. E temos conversado com o Irã, vamos ver o que acontece”, declarou Trump a jornalistas em Nova Jersey.

O presidente americano descartou a atuação dos europeus no processo de negociação diplomática, afirmando que “eles não ajudaram. O Irã não quer conversar com a Europa. Eles querem conversar conosco. A Europa não vai conseguir ajudar dessa vez.”

Trump indicou que pretende decidir nas próximas duas semanas se os EUA irão se envolver militarmente no conflito, mas deixou claro que o envio de tropas terrestres não está sendo considerado no momento.

“O último que você quer são forças terrestres”, disse, reconhecendo ainda que Israel possui “capacidade limitada” para destruir as instalações nucleares subterrâneas do Irã.

Mais cedo, a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, afirmou que não poderia especular sobre uma possível pressão do governo Trump por um cessar-fogo entre Irã e Israel, mas reiterou que o presidente ainda mantém esperança em uma solução negociada. Ela destacou, contudo, que qualquer ataque iraniano a interesses americanos terá “consequências graves”.

No mesmo sentido, o embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, foi taxativo nesta sexta ao afirmar que “a diplomacia só pela diplomacia não vai funcionar” neste conflito e que só haveria avanço nas conversas se o Irã realmente abandonasse seu programa nuclear. Para Danon, “os iranianos têm sido mestres da enganação por muitos anos” e, portanto, não há espaço para negociações sem compromissos verificáveis

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