Uma mensagem diplomática interna do Departamento de Estado dos EUA, obtida pelo jornal The Washington Post, revela que centenas de cidadãos norte-americanos deixaram o Irã por fronteiras terrestres desde o início do conflito do país com Israel. O documento aponta a admissão do governo dos EUA sobre o perigo iminente que uma parcela significativa de seus cidadãos enfrenta na região do conflito no Oriente Médio.
A movimentação acontece em um momento crítico do conflito, enquanto o presidente Donald Trump avalia a possibilidade de os Estados Unidos se juntarem ao Estado de Israel na disputa para erradicar o programa nuclear iraniano. Segundo The Washington Post, os cidadãos americanos no Irã não estão apenas sob risco dos ataques israelenses – que as autoridades iranianas afirmam ter matado centenas de civis – mas também enfrentam perigos impostos pelo próprio regime iraniano.
O documento diplomático detalha que vários cidadãos americanos que tentaram deixar o país foram submetidos a “atrasos e assédio” por parte das autoridades iranianas. Há ainda relatos não confirmados, mas que estão sendo monitorados de perto por diplomatas americanos, de detenções e prisões de cidadãos dos EUA.
Além disso, a situação é agravada pela dificuldade de saída da região do conflito. O Turcomenistão, que faz fronteira com o Irã, não aprovou mais de 100 pedidos da Embaixada de Ashgabat para a entrada de americanos ao longo dos últimos dias. Diante disso, o Departamento de Estado dos EUA agora aconselha seus cidadãos no Irã a buscarem rotas alternativas para sair do país.
Uma porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce, afirmou nesta sexta-feira (20) que o governo Trump não planeja oferecer “saída direta com o auxílio do governo americano” do Irã. Cidadãos americanos que desejam sair “devem aproveitar os meios existentes”, disse ela.
Não há um número exato de americanos no Irã, mas estimativas anteriores apontam que pelo menos 25 mil pessoas receberam apoio do Departamento de Estado em meio às hostilidades em Israel, na Cisjordânia e no Irã.
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Riscos para pessoas com dupla nacionalidade no Irã
Paralelamente, a preocupação com a segurança dos cidadãos é ampliada pelo histórico do regime iraniano de prender estrangeiros e pessoas com dupla nacionalidade sob pretextos frágeis. Neste casos, os presos são usados como moeda de troca diplomática.
“Há um risco real de que sejam parados, interrogados e detidos sob acusações falsas, como espionagem”, alertou Holly Dagres, pesquisadora sênior do Instituto de Política do Oriente Próximo de Washington, destacando a vulnerabilidade dos cidadãos com dupla nacionalidade diante da iminente possibilidade de envolvimento dos EUA no conflito.
Desde 1980, os Estados Unidos não mantêm relações diplomáticas diretas com o Irã. A Embaixada Suíça, em Teerã, tem atuado como interlocutora dos interesses americanos. Contudo, o corpo diplomático suíço anunciou o fechamento temporário da embaixada devido ao conflito, com a embaixadora Nadine Olivieri Lozano deixando o país.
Nesta sexta, o Departamento de Estado divulgou o seguinte alerta de viagem: “cidadãos americanos não devem viajar para o Irã por qualquer motivo e devem deixar o país imediatamente se estiverem lá”. Aqueles que não puderem sair devem “estar preparados para se abrigar no local por longos períodos”.
O destino de centenas de milhares de americanos em todo o Oriente Médio está em xeque desde 13 de junho, quando Israel lançou um ataque generalizado contra o Irã, visando autoridades, militares e cientistas nucleares. Em retaliação, o Irã disparou centenas de mísseis e drones contra Israel e ameaçou atingir interesses americanos na região caso os EUA se unam a Israel.
Enquanto os Estados Unidos buscam uma solução diplomática, o presidente Trump estabeleceu um prazo de até duas semanas para um avanço nas negociações. Paralelamente, em Israel, onde vivem cerca de 700 mil americanos, a embaixada local tem trabalhado ativamente para auxiliar nas evacuações, buscando “voos militares, comerciais, fretados e navios de cruzeiro” para a saída de cidadãos.