O veterano sobrevivente de crises políticas, Benjamin Netanyahu, escapou outra vez. Por 61 votos a 53, às três da madrugada desta quinta-feira (12), o Parlamento o manteve no cargo de primeiro-ministro, quando tudo indicava, até o último momento, que o iria derrubar.
O “milagre” que reverteu a dissolução do governo foi realizado pelos partidos ultraortodoxos Shas e United Torah Judaism, com seus 18 votos decisivos, dois dos quais foram contra. A questão em debate, que ainda poderá ameaçar Netanyahu, é o alistamento dos jovens religiosos às Forças de Defesa de Israel (FDI) — isentos do serviço militar desde a fundação de Israel.
Com a guerra em Gaza desde 7/10/2023, os reservistas israelenses, homens e mulheres, clamam por reforço e descanso, enquanto cerca de 80 mil jovens religiosos passam os dias estudando em seminários. Os ministros religiosos do governo Netanyahu atiçam a guerra, querem a ocupação total de Gaza, mas não com seus filhos e netos na linha de frente. A Suprema Corte sentenciou fim da isenção, que é chamada de Lei da Evasão, e as FDI prepararam a convocação de milhares deles a partir da próxima semana.
Os dois partidos ultraortodoxos Shas e United Torah Judaism são 18 votos dos 68 que garantem a maioria de Netanyahu no Parlamento de 120 votos. Para evitar a convocação, a solução mais fácil foi, primeiro, ameaçar a debandada da coligação. O problema: uma nova eleição poderá não eleger mais tantos deputados religiosos, tirando-lhes o poder político, e quem sabe não elegerá um primeiro-ministro a favor do serviço militar obrigatório a todos os jovens israelenses. Os conchavos começaram, com crises, chantagens e maratonas de debates.
A oposição viu uma boa oportunidade de introduzir um voto de dissolução do Parlamento, contando com o apoio dos 18 deputados religiosos “rebeldes”. Mas os religiosos conseguiram um rascunho de acordo que os reconciliou com o governo, ao ser aceito pelo deputado Yuli Edelstein (Likud), que agora o submeterá à Comissão de Defesa e Relações Exteriores do Parlamento, da qual é o presidente. Trata-se de uma versão suavizada da lei de alistamento militar, com punições a desertores, que será apresentada daqui a alguns dias, em versão final. O líder da oposição, Yair Lapid, protestou: “Foi uma cusparada na cara dos combatentes das FDI”. O chefe do partido Agudat Yisrael, parte do UTJ, Yitzhak Goldknopf, renunciou a seu cargo de ministro do governo, já que votou para o derrubar. Um outro “traidor” também deverá sair do Parlamento.
A lei que ia ser votada, antes da nova versão, era severa, incluindo a perda de descontos em impostos sobre a propriedade e transporte público, a remoção de benefícios fiscais para mulheres trabalhadoras casadas com desertores, exclusão da loteria habitacional e o cancelamento de subsídios acadêmicos e de creches. Agora, uma outra tentativa de derrubar Netanyahu terá que esperar seis meses para ser apresentada.