A guerra em Gaza “está se esgotando a si mesma”, disse o presidente Trump ao telefone com o primeiro-ministro Netanyahu, e acrescentou: “Termine-a”. No telefonema, ontem (9), Trump revelou que não espera só um acordo de cessar-fogo e a libertação de todos os reféns com o Hamas, mas o fim da guerra — que ele associou a progressos em negociações com o Irã e Arábia Saudita. Não foi uma coincidência, então, o anúncio do primeiro-ministro Netanyahu, nesta terça-feira, de que há progressos nas negociações indiretas com o Hamas.
A oposição ouviu a informação com desconfiança: houve comentários de que se tratava de mais uma estratégia de sobrevivência para a reunião do Parlamento desta quarta-feira (11) em que o governo poderá cair, ao ser abandonado pelos partidos religiosos que o sustentam.
Os partidos ultraortodoxos protestam porque não foi aprovada a Lei de Evasão militar para seus jovens seminaristas, que então serão convocados a se alistar no Exército a partir da semana que vem, pela primeira vez desde a fundação de Israel. Pode ser que os ultraortodoxos ainda recuem, porque, caindo o governo, eles cairão também, e não podem confiar que voltem ao poder numa próxima eleição.
Uma fonte árabe familiar com as negociações com o Hamas informou ao jornal Times of Israel que os impasses não foram superados, continuando tudo igual. Mas o primeiro-ministro Netanyahu convocou a seu gabinete o ministro da Defesa, Israel Katz, o chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel (FDI), Eyal Zamir, e o ministro de Assuntos Estratégicos, Ron Demer, além dos negociadores que participam dos encontros em Doha e no Cairo, para um exame “à luz de certos progressos”. Esses progressos seriam concessões que Israel decidiu fazer depois do telefonema do presidente Trump? Nada transpirou.
Outro recado da Casa Branca, no mesmo telefonema de ontem: Netanyahu deve parar com as ameaças de ataque às usinas nucleares do Irã. Embora as negociações entre os EUA e o Irã não estejam em boa fase, no momento, “a porta (para um acordo) não está fechada”, disse Trump. Se não houver acordo nuclear, ficou subentendido que o Pentágono executará seus planos de um ataque, já prontos, dos quais as forças israelenses poderão participar. O chefe do Comando Central americano, general Michael Kurilla, confirmou ter entregado “um leque de opções” de ataque ao Irã ao secretário da Defesa, ao depor hoje diante de um comitê no Congresso.
Na próxima semana, em Nova York, o presidente da França, Emmanuel Macron, e o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, vão presidir uma conferência sobre a criação da Palestina. O presidente da Autoridade Palestina (AP), Mahmoud Abbas, enviou aos dois uma carta na qual descreve que “o Hamas deverá entregar suas armas e capacidades militares aos soldados da AP, que contarão com o apoio árabe e internacional”. O problema é que a ideia não conta com os apoios principais do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e do presidente Donald Trump, ambos contra a solução de dois estados nos territórios da Cisjordânia (cada vez mais ocupada por colonos israelenses) e de Gaza, que está reduzida a ruínas e com 2,2 milhões de palestinos esfomeados, sem casas, sem serviços básicos, e ainda sob ataques de Israel.